O curso de economia está morrendo

Coluna do Movimento Estudantil

Este espaço é reservado para o movimento estudantil. Em cada edição, convidamos estudantes a compartilhar as suas reflexões com o objetivo de promover um diálogo nacional.

Nesta edição trazemos as vozes de:

Kayque Soares

CAECO Maria da Conceição Tavares

Unicamp

Rebeca Amazonas

CAECO Abdias do Nascimento

UERJ

Este espaço é reservado para o movimento estudantil. Em cada edição, convidamos estudantes a compartilhar as suas reflexões com o objetivo de promover um diálogo nacional.

Nesta edição trazemos as vozes de:

Rebeca Amazonas

CAECO Abdias do Nascimento

UERJ

Kayque Soares

CAECO Maria da Conceição Tavares

Unicamp

O curso de economia está morrendo, porém, isso não é necessariamente ruim e existem algumas razões para isso. O ensino superior passou por uma democratização de acesso como nunca nos últimos 20 anos após a lei de cotas, tornando obsoletas diversas estruturas das universidades, incluindo as estruturas curriculares, na medida em que novas vozes passaram a ocupar o ambiente universitário. A lei de cotas foi e é positiva exatamente por tornar o espaço mais democrático e diverso, o que promove novas visões e explicações dos fenômenos, como os econômicos. É uma transformação que nos leva a criticar as estruturas impostas e a buscarmos novas formas de entender esses fenômenos, potencializando os debates dentro do curso e das próprias universidades sobre o que é a economia e quais são seus impactos, com olhares alternativos e contestadores da economia convencional, tendo em vista que a atual conjuntura traz consigo temas e dilemas antes impensáveis, esbarrando na rigidez da ciência econômica. 

Como abarcar a diversidade de visões que essa mudança de perfil de estudantes traz ao incluir cada vez mais mulheres, pessoas periféricas, racializadas e LGBTQIAP+? Como atualizar o debate econômico para incluir a emergência climática, as novas relações de trabalho, nos velhos moldes dos cursos de economia? Esses são alguns dos desafios inadiáveis e urgentes da nossa geração.

Para responder a essas questões, a integração nacional entre os cursos de economia é fundamental. Coletivos como o Arroz, Feijão e Economia (CAFE) e a Rede Desajuste, os quais integramos, se configuram como relevantes exatamente por fomentarem os debates levantados nesta coluna. Integrar esses espaços nos fez enxergar que essas inquietações estão para além de dois centros acadêmicos, possuindo dimensão nacional.

Apesar dessas transformações positivas da formação em economia, outros aspectos que ocorrem concomitantemente nos geram preocupação e a perspectiva de que o curso pode perder sua essência. A necessidade de se repensar o curso existe, mas estudantes precisam ser ouvidos neste processo. É fato que o curso de economia em grande parte das universidades vem se tornando obsoleto, mas não podemos permitir brechas para aprovação de desmontes nos nossos cursos, como a exclusão das cadeiras de história e ciências sociais nos programas, fazendo com que o curso caminhe para a tecnocracia voltada para o mercado e se desconecte da função social que o economista deveria ter.

“A economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os povos. É isso que está ocorrendo no mundo inteiro, uma brutal concentração de renda entre riqueza, o desemprego e a miséria” – Maria da Conceição Tavares

O que podemos fazer para estar no controle dessas mudanças nos nossos cursos? Acreditamos que, nesse cenário de disputa, se torna ainda mais relevante termos a Federação Nacional dos Estudantes de Economia (FENECO) ativa e alinhada aos interesses dos estudantes que ela representa. Porém, a pandemia e o processo de esvaziamento da federação ressaltaram a necessidade de reconstrução desse espaço. Hoje, esse processo de esvaziamento gera desmobilização e efeitos sobre a realização dos encontros nacionais e regionais, que são tão importantes para debater de forma ampla o nosso curso. É necessário mudanças dentro dos espaços de articulação (ENECO, ERECO, FENECO) para gerar uma mobilização efetiva.

Que a morte do curso de economia seja a superação total de visões e estruturas curriculares obsoletas que ignoram os problemas sociais urgentes da atualidade, como também marginalizam as vozes que falam de economia a partir dos recortes de gênero, raça e classe. Para que, então, possa nascer uma ciência econômica diversa e inclusiva, profundamente engajada com questões que estão no cerne das demandas sociais e ambientais. Que dessa morte surja também a ampla compreensão dos estudantes sobre a importância de ocupar e transformar espaços institucionais, como a federação, para que sejam finalmente ouvidas as nossas inquietações.


Kayque Soares e Rebeca Amazonas são estudantes do curso de Ciências Econômicas na Unicamp e na UERJ – ambas universidades marcadas pelas lutas e conquistas do movimento estudantil – além de comporem os coletivos Arroz, Feijão e Economia e Desajuste, empenhados pelo debate econômico progressista.

No mundo todo, as políticas industriais estão evoluindo para abordar objetivos sociais e ambientais, o que requer uma reforma no Estado. Neste debate, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) exemplifica uma iniciativa recente do governo brasileiro, e o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) uma política nacional madura para superar essas barreiras.

Nessa seção veja as colunas:

É preciso transformar o Estado
Nova Indústria Brasil
O desenvolvimento aliado à missão da saúde

Leia mais

As crises contemporâneas são globais, exigindo ações conjuntas de todos os países, o que para ocorrer requer uma reforma nas instituições de articulação internacional. O Brasil, em 2024 na presidência do G20, desempenha um papel central para essa articulação abordar questões como pobreza, desigualdade e mudanças climáticas.

Nessa seção veja as colunas:

É preciso transformar o Estado
Nova Indústria Brasil
O desenvolvimento aliado à missão da saúde

Leia mais

A regra da Meta de Resultado Primário cria a obrigação do governo conter gastos conforme a arrecadação de impostos. Contudo, sua aplicação obsessiva no curto prazo exige cortes improvisados e sabota o planejamento público, e foi justificativa para o impeachment em 2016.

Nessa seção veja as colunas:

O simplismo dos superávits fiscais
A meta no novo governo Lula

Leia mais

O Teto de Gastos de esteve vigente entre 2016 e 2022 congelando os gastos públicos federais, obrigando a cortes em diversas políticas públicas. Seus impactos sobre a insegurança alimentar no Brasil foram drásticos, especialmente sobre mulheres e pessoas negras.

Leia mais

Substituindo o Teto, o NAF com seu funcionamento complexo é abordado aqui, com sua consequências sobre o estímulo à economia e sobre o financiamento das políticas públicas, debatemos sua (in)capacidade de sustentar um processo de desenvolvimento do Brasil nos próximos anos.

Nessa seção veja as colunas:

Os problemas do crescimento limitado
As ameaças à Previdência
As ameaças à Saúde e à Educação

Leia mais

Lançada pela Gazetinha e pelo Inesc em 2023, a série introduz a relação entre governo e economia sob uma abordagem alternativa à narrativa liberal/privatizante que domina o noticiário, apontando os desafios para um desenvolvimento com justiça social e ambiental.

Leia mais

Estudantes da UERJ e da Unicamp debatem como a universidade está defasada e precisa ser renovada, o que requer a articulação estudantil em entidades como a Federação Nacional de Estudantes de Economia (FENECO).

Leia mais

A economia não é neutra, mas uma ferramenta para transformar a sociedade, afirmam Juliane Furno e Pedro Rossi. Eles criticam a economia neoclássica e a meritocracia, destacando a necessidade de um parâmetro moral e uma abordagem crítica para os economistas. O estudo deve integrar análise crítica e militância, defendendo uma economia que priorize a justiça social.

Leia mais